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janeiro 14, 2011

'Enrolados' e a primeira princesa em 3D

Animação até empolga, mas emociona menos que o padrão tradicional


Falar da nova animação da Walt Disney Pictures - o 50º desenho da empresa - Enrolados (Tangled, EUA, 2010), sem comentar sobre os lançamentos passados do estúdio, é complicado. Sempre buscando oferecer diversão à família inteira, a empresa do Mickey buscou evoluir e se adequar ao mercado gradativamente. Conhecida por ser a casa das princesas mais famosas da literatura, a Disney construiu uma maneira de vender sonhos à garotinhas que desejam viver as fábulas e encontrar o tal príncipe encantado. Mesmo se baseando de histórias já existentes, sem o toque e o marketing da empresa, pouco se iria longe. Exemplo de animação mal sucedida sem o aparato da "magia" tem como principal nome Anastasia - tentativa da 20th Century Fox com a temática princesa. E basta ter no imaginário filmes como A Bela e a Fera, Cinderela, Aladdin, Branca de Neve e os Sete Anões, A Pequena Sereia, entre outros, e facilmente confundir tais lendas com o estúdio.

Entretanto, a Pixar levou para o cinema um novo formato de computação gráfica para os desenhos infantis e, nesses 15 anos do lançamento de Toy Story, até hoje, o padrão é garantia de lucros aos principais estúdios de Hollywood. É a Pixar também, a "responsável" pela diminuição do interesse do público no formato convencional, enterrando até mesmo as tradicionais tramas da Disney. Depois de decidir parar com o formato, o estúdio tentou emplacar uma nova princesa no bom filme A Princesa e o Sapo. Porém, o fracasso levou os executivos terem mais cuidado e realmente não arriscarem com o público. Um ano depois, surge uma nova princesa, mas com tantos disfarces, que fica difícil decidir pelo marketing, qual o gênero apresentados. Se adequando à realidade, Enrolados quebra o gelo dos contos de fadas tradicionais e insere uma figura de princesa mais forte e ativa, mas sem deixar de lado a delicadeza de sonhadora e romântica, além de vulnerável. Isso foi testado em Encantada e A Princesa e o Sapo, mas agora em computação gráfica, é que a personalidade dela fica melhor visível e aproveitada de maneira divertida, afinal, o filme é uma aventura e não apenas um novo conto de fadas.

Juntando coadjuvantes inesperados como um cavalo da corte real que age como um cachorro, ou o mascote da Rapunzel um adorável camaleão, o estranho aqui é se dar conta que a Disney andou tendo referências das concorrentes para moldar o visual. Mesmo com produção de um dos mentores da Pixar, John Lasseter, as semelhanças com Shrek da Dreamworks Animations são impressionantes. A Disney Animations (criada para não ficar dependente da Pixar no formato) já havia lançado seus projetos como A Família do Futuro, O Galinho Chicken Little e Bolt sem impressionar muito, e agora mais uma vez continua no caminho quase ideal e sem arriscar tanto.

Mesmo que com uma parte técnica impressionante - US$ 260 milhões de investimento -, e esconder o nome Rapunzel em busca do público masculino (que prefere heróis de quadrinhos, como ela mesmo percebeu ao comprar a Marvel), ao final da exibição, fica claro que a intenção é até interessante, mas a emoção e a qualidade do roteiro dos filmes mais tradicionais ficou desfigurada, pior ainda a cantoria desnecessária. Na versão brasileira, ainda tem um forçado Luciano Huck como a voz do protagonista masculino (que dessa vez não é um príncipe e sim um ladrão - mais uma característica de desconstrução e adequação à cultura atual, vide o sucesso de Jack Sparrow). O que funcionou muito bem em UP Altas Aventuras com Chico Anysio dublando o protagonista, aqui o apresentador global não convence. Parece meio desesperador esse tipo de atitudes e mudanças, mas a Disney precisava revitalizar e novamente ser àquela empresa que vende sonhos e se mantém no imaginário das crianças e da família, sem claro, deixar de fora o esperado beijo do casal no final da projeção e, agora, em 3D.

Trailer:


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