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junho 02, 2013

Crítica: superficial, 'Somos Tão Jovens' é fácil de gostar

Filme sobre adolescência de Renato Russo contextualiza movimento rock de Brasília


Pouco a pouco o cinema nacional vai se deslocando do terreno seguro (comédias e dramas pesados) e expande seus horizontes temáticos. Se na indústria cinematográfica afora, a história de vida de grandes ídolos ou músicos famosos é comum não só no formato cinebiografia, mas quando foca em fragmentos e momentos de tais protagonistas, no Brasil essa temática ganha um importante impulso com Somos Tão Jovens (Brasil, 2013), focado na adolescência do lendário Renato Russo. O longa ainda contextualiza o período marcado por uma ditadura militar no Brasil, da qual, movimentos musicais como o punk rock começa a ganhar força num país silencioso e o cenário nacional começa a se movimentar ainda mais musicalmente.

Um dos trunfos dessa produção do diretor Antonio Carlos da Fontoura, é centrar nessa fase de transformações de Renato Russo (Thiago Mendonça), jovem culto que passa de acomodado de família de classe média para um idealista que usa a música como arma contra o momento. Sua paixão pelos ídolos internacionais que o influenciam não só musicalmente, mas também na forma de ver a vida - a passagem sobre a morte de John Lennon é bem significativa pra mostrar o quanto Renato era apaixonado pelo símbolo Lennon. Cercado de menções sobre outras bandas como Capital Inicial e Paralamas do Sucesso, o filme contextualiza esse grande movimento que partiu de Brasília pra ganhar o resto do país. Também é bem simbólico que o estado em questão, centro político do país, tenha sido um dos mais influentes dessa cultura questionadora e que muito acrescentou para o cenário.

O diretor também dá foco a amizade de Renato com Aninha (Laila Zaid), provavelmente na intenção de transparecer um amor mais generalizado, deixando quase de lado sua sexualidade - homossexual assumido -, e faz  o longa correr por fora uma militância, mostrando que os dois ainda tiveram um relacionamento também sexual. Além disso deixa de fora até um beijo gay, diferente de seu filme mais próximo, Cazuza - O Tempo Não Para (Brasil, 2004), que causou reboliço entre os conservadores. A explicação também deve-se na forma superficial que o longa trata de todos os assuntos. Ao mostrar a origem das músicas políticas, o roteiro intercala momentos de exaltação crítica e "clipes" das músicas: como quando ele esbraveja "que país é esse" num bar entre amigos. É como se o longa quisesse apenas inserir essa "geração shopping" para o mundo do Legião Urbana, apresentando Renato Russo de forma simplória - mesmo que sem esconder sua arrogância.

Em tempos de um rock popular e apolítico no país, é um tanto decepcionante que a voz da geração coca-cola ganhe um filme que não se aventure mais nas críticas controversas do músico. Sabe-se que Renato Russo também nunca escondeu o fato de ser capitalista, de entender que a sobrevivência na música nada mais era que uma oportunidade desse mercado. Mesmo assim ele era questionador e ligado a liberdade de expressão e escolha, entendendo que o sistema é o único que poderia lhe garantir essa auto suficiência e fazer que sua mensagem fosse longe - músicos hipócritas é o que mais existe e ele sobressaia nessa questão. Apesar de não necessariamente escolher um lado, ele sempre foi crítico e deixa claro sua opinião contra o governo. O longa deixa um gosto estranho se o espectador comparar sua voz ao mercado atual, que não existe um senso crítico, parecendo que só porque a ditadura acabou e o país vive a mil maravilhas (por isso vozes como Lobão ainda chamam atenção). De fato, a voz adolescente de Renato Russo era um tanto mais ácida que a retratada pelo filme, mas isso é tema pra quem sabe - visto o sucesso do filme -, uma outra oportunidade.

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