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janeiro 20, 2013

Crítica: 'Django Livre' traz diversão sanguinolenta

Novo filme de Quentin Tarantino é faroeste com muito catshup


Existe na indústria cinematográfica uma questão que há anos tem ganhado debates pela sociedade à fora: a violência nos filmes. E como não podia ficar fora da roda, o diretor que é exímio em explorar essa natureza nos roteiros que falam sobre criminalidade e vingança, Quentin Tarantino. Com um currículo que tem desde o cultuado Pulp Fiction - Tempos de Violência (1994), passando pelo sucesso comercial Kill Bill (2003 e 2004) até o consagrado Bastardos Inglórios (2009), Tarantino equilibra os diálogos banais e naturais tanto quanto os profundos, com as cenas de ação sanguinolentas e que não economizam na sordidez de eventos cabulosos. Em Django Livre (EUA, 2012), ele mescla o advento da violência até bem, porém, numa sociedade marcada por massacre em escolas, qualquer gota de sangue à mais causa repulsa.

Felizmente, outras questões mais pertinentes - ou não - voltaram a serem comentadas. O filme toca no espinhoso assunto da escravidão e, como em Bastardos Inglórios que contou uma trama sobre nazismo de uma forma original, criativa, Tarantino apresenta uma versão faroeste com todas suas características, humor, a trilha sonora eclética e que desvirtua da época em que a história se passa, sua edição rápida, caraterizações marcantes e os diálogos imprevisíveis. Junto com a escravidão, tem uma parcela do público que não concorda com termos usados, acusando-os de pejorativos e racistas. Seja lá porque essa parcela se incomodou, já que a mensagem do filme é positiva contra a escravidão e brinda Django (Jamie Foxx) como herói absoluto, apesar de ter tido apoio do alemão Dr. King Schultz (Christoph Waltz), o caçador de recompensas que utiliza o negro como parceiro.

Em outras vertentes, fica claro que uma corrente dentro da indústria precisa encontrar formas de criticar grandes obras, ainda mais quando existe a possibilidade desses se saírem vencedores de prêmios como o Oscar e o Globo de Ouro - o mesmo drama passa a diretora Kathryn Bigelow, acusada de promover a tortura no seu último filme A Hora Mais Escura, e isso não lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Em Django Livre, não existe nenhuma tentativa de polarizar as duas polêmicas levantadas pela turma moralista e hipócrita norte-americana. Tudo é mais uma visão de um diretor que tem muita preocupação em contar uma história, mas sempre do seu jeito, de forma satírica, exagerada.

E exagero é o que mais tem em Django Livre, e infelizmente são eles que desequilibram a boa história contada. Sua longa duração, mesmo que não incômoda, poderia muito bem resolver questões que ficam abertas no filme, como o passado de Django - os flashbacks contínuos preferem focar no seu amor pela amada, repetidas vezes e não mostram como ele conseguiu se destacar tanto. O seu treinamento também não é bem mostrado - se limita nas cenas de tiros contra um boneco de neve, e mais à frente eles retornam com as mesmas imagens, tentando mais uma vez explicar como ele consegue ser tão bom (porém, não causa emoção, dado aos exageros já mostrados anteriormente). A utilização da trilha sonora impactante é um fato positivo, mas falta sutilidade no uso.

A violência mesmo só choca quando tem cenas envolvendo cães destroçando um homem ou a luta entre os dois escravos, que sem dúvidas são mais fortes que o comum. De resto, é tudo muito catshup, algumas cenas provocam risos, e não estão na necessidade oferecer apenas barulho por nada - fazem parte do roteiro como entretenimento, uma ousadia do politicamente incorreto diretor. Não é pra todos, e Tarantino nunca foi pra todos. Ainda é possível se deliciar com a caraterização dos personagens, em sua maior parte os coadjuvantes como Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio e Samuel L. Jackson, sem dúvidas roubando toda a cena em que aparecem. Inclusive Tarantino fecha bem o ciclo de seu debate sobre escravidão e racismo mostrando um branco que está à frente do seu tempo com personagem de Waltz, ousado e coloca um negro ao seu lado montando um cavalo e pedindo para que o tratem como um branco, e o de Jackson, um lacaio puxa-saco que fica ao lado do patrão e ordena castigos contra os próprios negros da casa em que serve.

Direção marcante, apesar dos poucos deslizes, roteiro interessante e com bons diálogos (como de praxe) e uma estética atraente, original, bem produzida. Tudo isso faz de Django Livre uma boa aventura, fácil de se envolver e que tem uma mensagem otimista. É sua forma de ver um filme de faroeste, assim como já recriou um filmes sobre a segunda gerra mundial ou o gênero de arte marciais. E se até hoje os assuntos tratados incomodam, é porque existe alguém por aí que anseia em produções menos ousadas, que desafiam a capacidade crítica e reflexiva de obras oponentes e feitas à massa. Engraçado, pois Django Livre nem chega a tocar tanto quanto algumas obras de Tarantino, e morreria na praia se fosse comparado com filmes mais sérios e filosóficos. Debate sobre violência e preconceito é sempre bem vindo, mas levar esse filme como exemplo, é caminhar pelo lado menos interessante dos assuntos.

Trailer:



Um comentário:

  1. Ivan concordo em todos os aspectos que colocou em sua crítica!
    Uma coisa que fui analisar após ver o filme é que as cenas mais engraçadas do filme estão ligadas diretamente a violência, isso de certo modo me assusta pois será que vivemos tanta violência gratuita nos dias de hj que nada mais nos choca?
    Com certeza o filme merece ser visto e trás um olhar diferente sobre a posição do Negro na sociedade Americana da época!

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